Crônica - Uma Confissão
Eu pratiquei bullying. Com um punhado a mais de esmero, poderia ter elaborado outra forma de iniciar esta crônica. Entretanto, esmero demais podem esconder justificativas nas entrelinhas. E este não será um texto de entrelinhas. Na adolescência dos anos 90, encontrava-me na puberdade, com todos seus hormônios, dúvidas, certezas e prepotências naturais para a época. Cursava o hoje intitulado ensino médio e na minha sala, dentre alguns judas prontos para serem diariamente malhados, havia um no qual os alunos dedicavam particular atenção. Todos o chamavam de Dumbo. Na época considerávamos Dumbo uma figura estranha. Seu corpo era de aspecto quebradiço, os ombros levemente arqueados e, equilibrada sobre o pescoço branco com veias aparentes, pendia uma cabeça destoante do resto da criatura. Era uma cabeça grande. Boca de dentes espaçados e orelhas de abano para chancelar o apelido. Se Dumbo não fosse o escolhido, o tipo físico fomentaria a criatividade do restante da turma.