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Mostrando postagens de novembro, 2010

Conto - Lembranças

Era outubro, mas o calor da primavera ainda não vencera o inverno rigoroso. Todas as plantas que envolviam a casa simples traziam em seus corpos as marcas gélidas de um orvalho intenso da noite recém afugentada pelos primeiros raios de Sol. Dentro da residência o silêncio reinava quase absoluto; era combatido somente por alguns passos arrastados. No corredor, um casal de idosos seguia de braços dados rumo à sala. Uma terceira pessoa os seguia desinteressada. – Seu José, pode deixar que eu levo a Dona Maria para a sala. O senhor não pode se esforçar assim. – A enfermeira fingia preocupação. Cuidar de um casal de velhos não era um emprego ruim, mas ser obrigada a acordar em um domingo antes das oito horas da manhã era motivo suficiente para amaldiçoar a família inteira dos patrões. – Arre! Já disse que eu levo ela. Teimosia besta! – Resmungou o velho com a voz rouca. Enquanto sua mão esquerda tateava a parede de madeira buscando um equilíbrio perdido há algum tempo, o braço direito