Crônica - Até tu, presunto?
"Ah! Droga!" — Gritou Miguel enquanto levantava da mesa segurando seu café da manhã. Nela, o jornal era molhado aos poucos pelo café que ele acabara de derrubar. A capa escancarava a notícia: "OMS avisa: linguiça, bacon e presunto vão te matar de câncer". O desespero do Miguel vocês vão entender, mas só se a gente voltar um tanto no tempo, o que acontecerá... agora. Miguel sempre foi gordinho. Quando pequeno isso era até legal. Como também era dengoso, o excesso de fofura servia como imã para os dedos das tias que beliscavam suas bochechas até deixá-las roxas. Lógico que os beliscões eram ruins, mas o faziam parecer simpático, e simpatia na infância praticamente garante um estoque inesgotável de chocolate. O beliscão doía, mas o chocolate anestesiava. Justo. Na escola as coisas eram um pouco piores. Miguel era branco, usava óculos e mantinha uma barriga respeitável (não pelos colegas, claro). Essa combinação obrigava os demais alunos a usarem Miguel como alvo de tod