Crônica - Sim e Não

Gostaria imensamente que a vida tivesse respostas curtas.
“Sim”, “não”... sentenças simples, porém, carregadas de significado.
Teríamos tempo, então, para cuidar do resto, pois os problemas não seriam classificados como tais, posto estarem contidos e respondidos dentro destas três letras.
Infelizmente essa não é a vida que tenho.
O que não significa ser impossível segui-la com base nestas duas palavras singelas. Muitos, aliás, o fazem dessa forma, respondendo aos obstáculos de maneira simplória.
Aprendi há muito que as respostas dependem de um retroceder, a fim de encarar o seu núcleo, jamais se esquecendo de avançar para o amanhã, compreendendo as consequências das respostas dadas. Porque, se há algo de invariável na Terra é a sujeição de todos aos próprios atos.
Nada escapa da sua origem, assim como nada escapa das consequências.
O relógio avança muito da meia-noite enquanto escrevo estas palavras. Observo a internet e nela encontro o ódio de costume. Gritos, dedos em riste, verdades e respostas... a internet especializou-se nelas.
Todos têm resposta para tudo. Quase sempre respostas curtas. Quase nunca respostas prontas para encarar seu passado e sem a menor noção das consequências futuras.
Mas a resposta está lá, pois a internet é a morada delas.
Talvez eu pertença a uma outra época ou, quem sabe, minha educação tenha partido de outras bases, mas me interesso pouco pelas respostas. Gosto quando me deparo com elas, contudo, foram as perguntas que sempre me deram mais prazer.
Muito disso porque aprendi há muito que a vida tem poucas respostas, mas é repleta de perguntas e, não raro, uma resposta o é por uma fração de segundo, pois logo abre caminho para novos questionamentos, numa rede tecida indefinidamente.
Termina com a nossa morte e não com o nó definitivo de sua linha.
Como em toda crise, as respostas brotam com intensidade avassaladora. E a cada dia sabemos mais das respostas do outro, porque todos as têm e fazem a absoluta questão de externa-la.
Não digo o mesmo das perguntas, infelizmente.
Gostaria de poder dizer que os proprietários das respostas questionaram-se sobre a origem do problema e meditaram sobre consequências futuras, mas precisaria de três doses de ingenuidade para tanto.
Sou ingênuo, mas sem excessos.
Em meio a este tumulto vivido, mantenho-me desprovido de soluções, reservando-me no direito de prosseguir nos questionamentos. Procuro o núcleo de todo esse mal para vislumbrar um futuro com um pouco mais de mansidão.
Agradeço a Deus pela minha ignorância, pois ela obriga meu movimento.
Temo, porém, que a maioria tenha encontrado suas respostas. E como dito antes, toda resposta, sem exceção, vem acompanhada de consequências.
Questiono-me se os proprietários das respostas desejarão vivê-las.
Como sempre o fim de uma pergunta e uma porta para outros questionamentos.
A não ser, é claro, na internet, pois, nela tudo tem um fim. Em sua existência virtual e binária, a tudo responde “sim” e “não”.
É uma pena não morarmos na internet.

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