Crônica - Tu és presença

Tu és presença, não importa a distância. Aliás, essa distância autoimposta nos afasta sem nos separar.

Não nos separa, pois tu preenches todos os espaços que construíram o meu passado e delimita os contornos do meu presente e futuro.

Procuro, sem sucesso, um espaço vago de você nos confins da minha história. Ainda que afastado, minhas ações e pensamentos eram resultados do seu lapidar amoroso. Labor não reconhecido no tempo e intensidade devidos, reconheço.

O tempo, porém, torna-nos mais sãos e cientes da própria pequenez, ao passo que nos alegra em vê-la crescer e agigantar ante a nós, crias miúdas e carentes de colo.

Observo-me perante o espelho e percebo o quanto trabalhou para moldar-me, não à sua imagem, mas àquela que gostaria que eu fosse. Sinto medo por a ter decepcionado alguma vez. Novamente um pensamento insignificante de quem pouco é perante ti, pois não perderias tempo remoendo insignificâncias. De certo a transformaria, pelo amor, em algo melhor e maior, mas que hoje me foge aos conceitos ou explicações.

De resto, avoluma-se em mim a esperança de vislumbrar um futuro ainda mais cheio de ti. O tempo, mestre de tudo, cuidará de educar-me na percepção da sua importância, na onipresença do seu amor naquilo que fui, sou e serei.

O que hoje carece em contato, abunda em desejo. E ele será saciado. O tempo há de cuidar e prover. Enquanto isso, tu continuas a envolver-me.

Porque não importa a distância, tu és eterna presença.


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