Análise – Livro – Sinuca de Bico
SINUCA DE BICOAutor: Josh BazellEditora: RoccoPáginas: 286. R$ 39,00 |
O Dr. Peter Brown não é uma pessoa feliz. Pelo contrário, parece odiar a tudo e a todos que o cercam, desde animais inofensivos aos pacientes que é obrigado a atender no Manhattan Catholic Hospital, onde é médico residente. Cada dia no exercício da medicina assemelha-se mais a uma condenação do que o simples desempenho de uma profissão.
O que não deixa de ser verdade, pois o protagonista do primeiro livro escrito pelo estadunidense Josh Bazell não cursou medicina pelo firme propósito de salvar vidas alheias (o que, inclusive, gera uma impagável passagem no livro no início do segundo capítulo), mas para fugir da máfia, que não vai descansar enquanto não tiver sua cabeça em uma bandeja.
As coisas complicam por completo quando um dos pacientes o reconhece e ameaça denunciar sua nova vida para David Locano, exatamente o chefe do clã que o persegue.
A narrativa do livro, portanto, desdobra-se em duas frentes, enquanto acompanhamos todo o esforço do protagonista para não ser descoberto pela máfia, somos remetidos ao passado, onde conhecemos Pietro Brnwa, jovem que teve seus avós assassinados, passa a ser um assassino contratado pela família Locano e transforma-se posteriormente em Peter Brown, graças ao programa de proteção à testemunha.
Neste último parágrafo reside o grande trunfo do livro, a forma com que o autor trata essas duas histórias impede que o leitor perca o interesse pela trama. O meio utilizado é simples, o modo de executa-lo, nem tanto. Bazell faz um revezamento constante entre passado e presente do protagonista, capítulos ímpares cuidam do presente e pares do passado (com exceção no último capítulo).
Assim, a cada capítulo par descortinamos um pouco mais do passado de Peter Brown e descobrimos os motivos pelos quais o protagonista tornou-se uma pessoa tão perigosa e cheia de ódio.
Evidentemente essa forma não-linear de tratar o texto é complexa em termos narrativos, e isso fica claro durante a obra. Isso porque o passado do protagonista é repleto de detalhes e passagens importantes para a construção do seu caráter, abrangendo um período enorme de tempo (vários anos), enquanto o presente como médico é retratado no livro em um período de apenas um dia.
Portanto, há muito mais a ser dito sobre o seu passado do que sobre o presente; isso faz com que vários momentos da história pretérita de Peter (na época ainda Pietro) sejam mencionados de maneira apressada.
Outro problema dessa “pressa” em retratar o passado do protagonista é a construção de alguns personagens. Para criar um pouco mais de empatia com o leitor, Bazell deveria ter desenvolvido melhor duas pessoas essenciais para a trama: Adam Locano e Magdalena. Ambos são imprescindíveis para explicar o atual estado psicológico e emocional do protagonista, porém, não lhes é dado no texto o espaço merecido. No caso específico de Magdalena, entendo ter o autor se equivocado ao construí-la; no início é uma religiosa fervorosa, contudo, cede facilmente ao apetite sexual de Peter (após um ou dois “não’s” sem muita convicção) e aceita de uma maneira incrivelmente fácil o fato de seu namorado ser um assassino contratado pela máfia! Convenhamos, este não é lá um comportamento normalmente visto em pessoas religiosas.
Mas acredito que tais equívocos também façam parte da inexperiência do autor, afinal este é seu primeiro livro. E para uma estréia, ele se sai muito bem.
O livro é dotado de um humor ácido. Bazell, por meio de seu protagonista, ataca sem perdão o sistema de saúde dos EUA, além de boa parte da categoria médica. E o autor sabe dosar tranquilamente o humor durante o texto; lógico que algumas piadas não funcionam como deveriam, mas grande parte delas é ótima (adorei o raciocínio sobre o fato de os anões da Branca de Neve sofrerem de silicose!!!).
Além do humor, o que não falta em Sinuca de Bico é violência. Aliás, Peter Brown pode ser considerado um novo Chuck Norris… a forma com que ele elimina os inimigos é tão fácil quanto impiedosa. O final do livro, inclusive, guarda uma cena de automutilação simplesmente inacreditável. Aqueles que assistiram Jogos Mortais 1 e acharam forte a parte em que o médico amputa o próprio pé para libertar-se de uma corrente, mudarão de opinião após lerem Sinuca de Bico!
É de se mencionar que essa incrível habilidade do protagonista de matar pessoas pode ser considerado uma bola fora do autor; já que, em nenhum momento é mostrado um aprendizado de Peter ou mesmo uma evolução na sua técnica, ele simplesmente tem um dom para matar qualquer um que apareça em seu caminho.
Como visto, erros durante o texto existem e precisam ser citados, porém, a história não-linear, a narrativa ágil, o humor ácido e o protagonista revoltado com o mundo e extremamente violento, tornam este livro de estréia de Josh Bazell uma grande pedida para aqueles que gostam de uma boa história policial. É um livro pequeno, de leitura agradável e com uma narrativa eficiente que mantém o interesse do leitor até a última palavra.
Uma última informação, toda a crítica feita por Bazell à classe médica e ao sistema de saúde americano são feitas com certo embasamento, pois o escritor também é médico residente.
Oiii! :)
ResponderExcluirA resenha tá ótima, só faltou fotinha da capa! *-*
te add no skoob, dps aceita? :)
Sucesso com o blog!
Beijinhos :**
Olá,
ResponderExcluirMuito obrigado pelos elogios à resenha. Valeu pela diga da foto da capa. Pode deixar que as próximas serão acompanhadas pelas respectivas "fotinhas". hehehehe
Até a próxima.