Caso Isabella – O fim antes do começo!

Enfim terminou! Na madrugada deste sábado, Ana Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni foram condenados (decisão ainda passível de recurso, deve-se lembrar) a 26 e 31 anos de prisão, respectivamente.

Mas uma coisa não me sai da cabeça desde que a menina Isabella teve sua vida ceifada há 02 anos… a condenação deste sábado não passou de uma chancela, uma confirmação de condenação já determinada há anos.

Por mais que juristas, sociólogos e jornalistas discutissem os possíveis resultados dos intermináveis debates que envolveram esse julgamento histórico, o fato é que Alexandre e Ana Jatobá já tinham suas sentenças escritas pela sociedade. A opinião pública os condenou há tempos, mas desta sentença não cabe qualquer recurso.

Todo o “circo” armado pela acusação e defesa por todo o processo criminal, desde sua fase embrionária no inquérito até a teatralização do juri em si, causou-me enjoo. Senti-me mal ao ver tanta dedicação de um promotor com a “insaciável” sede de justiça, assim como causava-me ânsia de vômito observar o advogado de defesa “emocionando-se” com todo o drama sofrido pelos acusados.

Todos os dias crianças têm suas vidas ceifadas no Brasil. Todos os dias pais e mães vão deitar-se desesperados, pois seus filhos desapareceram. Infelizmente, muitos deles não terão sequer o direito de enterrá-los.

Mas não nesse caso. A divulgação maciça dos eventos que determinaram a morte de Isabella, tornaram essa criança uma filha de todos nós. Como pais desesperados, tentamos de todas as maneiras achar um culpado… encontramos dois.

Na histeria geral que envolveu o caso Isabella, a maioria da população deixou de analisar a questão como um fato social que seria apreciado juridicamente pelo Poder Judiciário. Como bons pais, estabelecemos nosso foco de atenção e imediatamente condenamos à prisão perpétua Alexandre e Ana Jatobá.

Talvez, muitos podem pensar que esteja aqui defendendo os dois condenados. Não estou. Por tudo o que acompanhei do processo, não consigo imaginar como uma terceira pessoa poderia ter cometido o crime, somente os dois teriam condições para praticar tal ato. O que digo neste momento é que a divulgação excessiva de um determinado fato pode resultar em uma grande e incorrigível injustiça.

Imaginem, por exemplo, que Alexandre e Ana Jatobá fossem considerados inocentes. A decisão do júri é soberana de acordo com a nossa Constituição (art. 5º, inc. XXXVIII, alínea “c”) e deve ser respeitada por representar a verdade real do processo.

Mas e a verdade da sociedade? Entenderíamos nós que pai e madrasta de Isabella são inocentes? Acataríamos a soberania do veredicto do júri e deixaríamos os acusados continuar sua vida normalmente?

Acredito que não. A pena dos acusados vai muito além de 31 ou 26 “míseros” anos, pois a sociedade já estabeleceu a pena perpétua para ambos.

O que digo aqui é quase impossível de ser atendido, mas talvez seja hora da sociedade tentar pensar de uma maneira mais racional, não se deixando levar pela emoção desmedida o tempo todo, estabelecendo heróis ou criando vilões; isso porque a sociedade cria sua própria verdade, mas talvez a sua verdade não represente com exatidão a realidade.

Lembro mais uma vez que os acusados ainda poderão recorrer da decisão dos jurados. Em um recurso uma reviravolta pode acontecer, transformando os agora condenados em inocentes. Mas e a sociedade, conseguirá inocentá-los?

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