Análise - Livro - O Símbolo Perdido - Dan Brown

O Símbolo Perdido
Autor: Dan Brown
Editora Sextante
489 páginas. R$ 39,90

Fast food. Acredito que assim possa ser resumido este livro de Dan Brown. Assim como essas comidas rápidas, este livro passa ligeiro, é gostoso de ler, mas jamais será eleito o prato preferido de alguém.

Nesta obra, acompanhamos mais uma aventura do simbologista Robert Langdon, que se envolverá (novamente) em uma trama repleta de símbolos escondidos, que, caso revelados, mudarão os rumos da humanidade.

Dan Brown elege, desta vez, a capital americana como cenário para sua trama e os mistérios da francomaçonaria como motriz dos personagens principais. Nesse trajeto, portanto, somos levados à lugares escondidos de Washington, investigando os segredos por trás de toda a arquitetura americana; a qual foi inspirada em rituais maçônicos (haja vista que seus fundadores eram irmãos de maçonaria) e no anseio de liberdade que movia todos os participantes do projeto de independência e unificação dos estados americanos.

Evidentemente, como este é um livro de “teoria da conspiração”, a parte do “anseio de liberdade” é posta de lado, dando lugar principalmente à forma mística de criação da capital americana. O que não deixa de ser uma pena, pois a história americana foi um marco inigualável na luta pelos direitos humanos e no delinear do constitucionalismo, ou seja, o estudo da Constituição como norma máxima de um Estado.

Mas esse é um livro fast food. Essas questões demandam um aprofundamento de discussões sérias e densas, as quais não tem espaço nas quase 500 páginas da obra (como se não houvesse tempo para elas).

O tempo, aliás, é fator essencial na obra e na forma de leitura do livro. A ação toda se desenrola em aproximadamente 12 horas da vida de Robert Langdon, então, não há tempo a perder com discussões “menos importantes” como as mencionadas anteriormente.

Eu não li “O Símbolo Perdido”, eu o devorei. Fato inédito para mim, pois sempre adorei degustar um livro com calma; sempre leio algumas poucas páginas por dia. Assim, posso assimilar toda a leitura, a narrativa, pensar nas atitudes dos personagens, enfim, viver a aventura com intensidade e de maneira plena. Contudo, simplesmente não consegui parar de ler o este livro de Dan Brown, especialmente a partir da página 250, aproximadamente, quando a coisa toda engrena de forma definitiva.

Lendo o parágrafo acima, você, leitor, pode imaginar: “Nossa, então esse livro é ótimo!!!”. Não é bem assim.

Este é um livro de símbolos e códigos. Quando terminei a leitura, analisei tudo o que tinha vivido antes e tirei várias conclusões.

A primeira delas é que, sendo um livro de códigos, somente eles interessavam durante a leitura. Li quase 300 páginas em um dia (coisa que nunca havia feito antes na vida), simplesmente para saber o segredo dos símbolos. Então, até descobrir tudo o que eles escondiam, eu lia desesperadamente, sem atenção, quase sem prazer de ler, eu somente tinha que descobrir o significado. Entretanto, quando a verdade é revelada e alguns segredos da narrativa são iluminados (alguns bem decepcionantes, por sinal), o objetivo do livro se esvai. O que sobra são quase 50 páginas para serem lidas, as quais eu também devorei, mas por outro motivo... o livro já acabara e eu ainda estava com ele na mão, precisava terminá-lo, então li desesperadamente, sem atenção, quase sem prazer de ler. Tinha, apenas, que encerrar aquelas páginas para poder pegar uma próxima obra.

Não deveria ser assim. Um bom livro é aquele que você lê com vontade, mas sente um aperto no coração ao ver que o fim se aproxima; deseja encerrar a leitura, mas gostaria que tivesse mais algumas páginas para gozar aquele sentimento um pouco mais.

A segunda conclusão é que “O Símbolo Perdido” é SOMENTE um livro sobre códigos e símbolos, não sobre personagens. Este é o seu principal ponto negativo. O autor, em momento algum, preocupa-se em desenvolver os personagens da trama ou criar um vínculo afetivo entre eles e o leitor.

Dan Brown, por sinal, da mesma forma que é ótimo para criar coincidências em sua obra é terrível em desenvolver personagens, pois todos, sem qualquer exceção, são absolutamente desinteressantes; incluindo o próprio Robert Langdon, o qual, em teoria, deveria representar a mente humana, racionalizando toda a mística que envolve o cotidiano dos homens. Ele deveria ser a ciência em meio aos bárbaros, com todos os questionamentos, dúvidas e medos que envolvem o caminhar pelo desconhecido. Todavia, suas dúvidas soam tão artificiais, mecânicas, que não conseguimos nos envolver, nos identificar com aquele que seria a representação do nosso cérebro.

Também pudera, na tentativa de criar empatia entre Langdon e o leitor, Brown limita-se apenas a narrar a história que originou sua claustrofobia e a mostrar, vez por outra, o ridículo relógio do Mickey. É pouco, muito pouco para desenvolver sentimento de afeição para com o público.

Tão ruim quanto ou pior é o desenvolvimento dos irmãos Solomon, que na obra tem papel essencial. Para demonstrar que eles são pessoas boas e honestas o autor, em um arroubo de criatividade, resume toda a natureza desses indivíduos, a pessoas com “olhos cinzentos”. Uma pergunta: Que diabos significa ter, a pessoa, olhos cinzentos? Bem, ao menos para o autor, isso significa: “esse cara é bacana, nele você pode confiar”.

O problema maior de não saber desenvolver os personagens é que você não consegue dar a mínima para o futuro deles. Morram, vivam, sofram... pouco importa. Eles não são nada para você, então, o que venha a acontecer também será totalmente irrelevante.

Esse é um erro crasso em um livro que discute o futuro da humanidade. Para que os símbolos tenham relevância, para que você sinta os efeitos drásticos da sua elucidação, você precisa se preocupar com os indivíduos imediatamente atingidos pelos efeitos dos mesmos, os personagens. Se eles são irrelevantes, os símbolos também perdem sua força.

Por último, não posso deixar de mencionar uma artimanha ridícula do autor. O livro é narrado em 3ª pessoa onisciente, portanto, o narrador (e o leitor) conhece os personagens em seu interior. Porém, em certo momento da história, o narrador conta todo o passado de um dos personagens principais da obra de maneira enganosa; o narrador mente para o leitor (o que é ilógico, pois os dois deveriam funcionar como um só), contando de maneira errada o passado deste personagem com o único objetivo de criar (não há palavra melhor que defina o que Dan Brown fez neste ponto do livro) uma reviravolta ridícula no final. Qualquer escritor que se preze tem de inventar formas de tornar a história verossímil, acredito que mentir não é a melhor forma de se fazer isto.

Como disse no início, este é um livro fast food. Seu tema são os símbolos e os segredos que os envolvem, é esta a mola impulsionadora da história. Os personagens são irrelevantes. É uma pena Dan Brown não ter percebido que, no final das contas, o importante são os indivíduos e os efeitos que os segredos desvendados podem fazer em suas vidas. Sem os personagens, o livro fica estéril, sem vida. Ao término da leitura essa é a sensação; o livro é rápido e os códigos são interessantes, porém, são totalmente sem sentido, pois não é possível conectar-se a quem realmente deveria ser a parte principal da obra, as pessoas.

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