Análise – Cinema – Avatar

AVATAR (2009)
Diretor e Roteirista: James Cameron
Elenco: CCH Pounder, Peter Mensah, Lola Herrera, Matt Gerald, Sigourney Weaver (Grace), Wes Studi, Sam Worthington (Jake Sully), Joel Moore (I), Zoe Saldana, Giovanni Ribisi, Laz Alonso, Michelle Rodriguez (Trudy Chacon)

Escrevo esta análise ainda anestesiado com a inebriante experiência proporcionada pelo novo e fabuloso filme de James Cameron. Uma década depois de conquistar o mundo com Titanic, Cameron nos assombra agora com a impressionante história dos Na’vi, um povo residente do planeta Pandora, o qual é forçado a conviver com uma raça alienígena (os humanos) que firma bases em sua terra na busca por um minério precioso.

Infelizmente não pude assistir o filme em uma sala de projeção 3-D, portanto, boa parte da experiência criada com os novos equipamentos desenvolvidos pela Weta (empresa de Peter Jackson que já havia realizado pequenos milagres em Senhor dos Anéis) perdeu-se na visão padrão em 2-D. Contudo, se a experiência não foi completa, o que me foi apresentado na sessão causou um deslumbramento tal que se torna complexa a tarefa de descrever todos os pontos positivos deste filme.

Quando leio algum comentário sobre determinado filme onde mencionam que é impossível distinguir as criações por computação gráfica do “mundo real” fico ressabiado. Isso porque sou bastante crítico neste ponto e normalmente a distinção entre esses dois mundos é bastante nítida no decorrer da produção, especialmente com relação à textura dos objetos e personagens. Quase sempre é possível notar uma diferença clara entre o real e o desenvolvido por computação gráfica.

Ocorre que, em Avatar, por várias vezes, simplesmente não conseguia afirmar se o que estava vendo existia, na realidade, ou se era produto de uma série de linhas de comandos de um software. Tudo parece tão crível, são palpável... desde o início do filme tentei encontrar falhas nos efeitos especiais... depois de um tempo desisti, era uma busca inútil, pois os erros quase não existiam.

Ao assistir o filme você sabe que tudo aquilo foi criado por computador, porque normalmente não se vê seres azuis de 3 metros de altura andando normalmente pela rua. Fora esse “pequeno” fato, os Na’vi são totalmente reais, assim como todo o ecossistema de Pandora.

Por falar em Pandora, deve-se ressaltar um belíssimo trabalho de criação do planeta, o qual é coberto, em quase sua totalidade, por uma densa floresta semelhante às Tropicais. No desenvolvimento deste sistema complexo e delicado (posto ser todo interligado, como se percebe durante o filme), boa parte da flora foi aproveitada de espécimes existentes na Terra e outra foi modificada por Cameron com o claro intuito de causar o deslumbramento do espectador. Assim, são diversas as plantas que brilham no escuro, que se fecham por completo ao menor toque ou que soltam sementes que mais parecem ter sido extraídas de um documentário do Discovery sobre o fundo do mar.

Pandora é grandiosa, as batalhas durante a projeção são de proporções colossais, porém, o mais impressionante no que tange os efeitos são os pequenos detalhes. O ato banal de comer uma fruta torna-se um deleite absoluto para os olhos; cada criatura tem suas “pequenas falhas” naturais na pele, tornando cada personagem computadorizado um ser único, meticulosamente pensado em suas particularidades.

Com relação aos personagens, os efeitos de criação dos Na’vi são totalmente direcionados para criar uma verossimilhança nas ações e reações dos mesmos, tornando-os tão “humanos” quanto possível. Assim, não há como deixar de emocionar quando os homens atacam impiedosamente o lar dos Na’vi. A reação dos nativos é tão real que a empatia com o público é imediata. A imensa dor deles é sentida pelo expectador nos mínimos detalhes.

Ao final do filme percebe-se ter havido uma perfeita simbiose entre atores e tecnologia. A relação entre o público e os Na’vi é intensa graças não só à computação gráfica, mas à atuação de todo o elenco. Os efeitos visuais dos Na’vi são maravilhosos e captam cada nuance da fisionomia dos atores, assim, a atuação é transportada para a tela como se não houvesse a barreira tecnológica entre ator e espectador. Ou seja, a atuação em Avatar é imprescindível para que o público se identifique com os habitantes de Pandora.

Sem os efeitos fantásticos, mesmo com boas atuações, os Na’vi seriam inverossímeis. Sem ótimas atuações, a enxurrada de efeitos se tornaria estéril, sem a ligação emotiva necessária para a imersão do público.

Até o momento praticamente só comentei os efeitos especiais de Avatar. As razões para isto são óbvias. Porém, o resultado final do filme não seria tão bom se o roteiro e as atuações não fossem também de boa qualidade.

O roteiro é bem simples; nada truncado e com longas discussões filosóficas. Porém, cumpre o seu papel com louvor, fazer com que o público afeiçoe-se com os Na’vi, um povo primitivo e que cultua o seu planeta, não só como um deus, mas como um organismo vivo e interligado do qual dependem totalmente para sobreviver. Em contrapartida, os humanos, em sua maioria, são retratados como os imperialistas e mercenários que visam somente o lucro; se para atingir seus objetivos for necessário destruir completamente o povo Na’vi, tudo bem, desde que os dividendos compensem o sacrifício.

James Cameron leva o espectador a torcer todo o tempo pelos Na’vi. Desde à forma de vida dos Na’vi, passando pela diferença gritante entre os cenários onde vivem os nativos e os humanos, pois enquanto estes são rodeados por cinza e branco, formando um ambiente sem vida e mecanizado, a casa dos Na’vi é uma explosão de cores e sensações, pulsando, reagindo e interagindo com todos os habitantes, demonstrando ser um organismo vivo e complexo em sua magnitude.

Não pude ver Avatar em 3-D, não consegui sentir toda a experiência em seu esplendor, contudo, tudo o que me foi mostrado em mais de 2h30min de projeção foi suficiente para comprovar (mais uma vez) a imensa qualidade de James Cameron em criar histórias fantásticas que nos cativam e comovem. Cameron pode não ser o cara mais simpático do mundo (afinal, se autoproclamou rei na entrega do Oscar por Titanic), mas é inegável a sua capacidade e talento como diretor. Só vamos torcer para que ele não demora mais uma década para nos presentear com mais uma de suas pérolas.

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