Análise – DVD – Trama Internacional

Ação/Suspense – 118min
Direção: Tom Tykwer
Roteiro: Eric Singer
Elenco: Brian F. O`Byrne, Armin Mueller-Stahl, Naomi Watts, Clive Owen, Ty Jones, Ulrich Thomsen

Acabei de assistir ao novo trabalho do diretor Tom Tykwer, do frenético “Corra Lola Corra”. A cada novo trabalho deste diretor fico com a mesma sensação de frustração por não ter ele repetido o fantástico trabalho que marcou o início de sua carreira.

Bem, com esse início de análise vocês poderiam pensar que o este filme, que tem Clive Owen encabeçando o elenco, é muito ruim. Já digo de antemão, não é. Trata-se de um bom filme, correto do início ao fim, mas é só. O problema de Tykwer é que ele gerou expectativas demais nos cinéfilos com seu trabalho em Corra Lola Corra; agora, toda a vez que me preparo para ver um de seus filmes, anseio em encontrar aquela energia maluca e “clipeira” que envolvia seu trabalho mais marcante.

Antes de retornar aos detalhes técnicos do filme (bons e ruins), deixem-me situar vocês um pouco na história. Clive Owen é Lois Salinger, um agente da INTERPOL, que investiga as ações do IBBC, um banco com ramificações em todo o globo, e que estaria envolvido no comércio ilegal de armas, comércio este que abastece as guerras destruidoras do 3º mundo. Como esta instituição financeira deseja expandir suas ações, não tolera qualquer intromissão; fazendo desaparecer do mapa todos os que tentam impedir o seu avanço no comércio armamentista.

A partir deste gatilho, toda a ação de Trama Internacional se desenvolve. No final das contas, é um thriller de ação competente, mas algumas falhas comprometem em demasia o resultado final.

Mas primeiro, falemos das coisas boas. Li alguns comentários negativos a respeito da natureza impessoal do vilão (afinal é uma pessoa jurídica, um banco). Sinceramente gostei desta parte. Pareceu-me adequar-se à nossa realidade; realmente, ao final da projeção, o expectador pode ter a impressão de que faltou um vilão, mas quem disse que ele precisa estar presente para ser temido? Lembremos que um dos maiores vilões do todos os tempos do cinema é Sauron do Senhor dos Anéis, que é um ser imaterial. No meu entender, o fato de o vilão ser uma empresa foi empregada de forma correta, dando sempre a impressão de que pode estar em vários lugares ao mesmo tempo.

Outro ponto muito positivo é o fato de as ações desenvolvidas serem aparentemente lícitas, tratando-se apenas de comércio, assim, várias das reuniões, mesmo as que tratam de assuntos muito comprometedores, são realizadas dentro da própria sede do banco, em salas com paredes de vidro; ou seja, qualquer um pode ver quem está se reunindo na sala ao lado, pois não há nada a ser escondido. Por falar nisso, a maior parte da estrutura do banco é de vidro, passando ao mesmo tempo uma sensação de transparência de suas ações e de frieza; denotando ser aquele um ambiente estéril.

Por fim, o último ponto positivo é a impressionante cena de ação no museu Gugenhaim em Nova York. É uma cena longa, muito bem coreografada e com violência gráfica acima da média do que havia sido mostrado no filme até então. Detalhe para o DVD, que possui um belo extra, onde mostra toda a complexidade no desenvolvimento de uma cena assim, passando, inclusive, pela contrução de todo museu em um galpão abandonado para ser usado como set de filmagem.

Passemos, então, ao que o filme tem de pior. Por incrível que pareça, essa mesma cena no Gugenhaim é um ponto negativo para o filme. Não pela cena em si, que é maravilhosa, mas por destoar completamente do propósito do filme, o qual vinha adotando uma linha realista até aquele momento, quando se envereda pela ação fantasiosa. A cena analisada de forma isolada é ótima, mas quando colocada no contexto do filme, fica sem sentido. Toda sua estrutura, passando pela violência um pouco exagerada, não condiz com o que vinha sendo apresentado.

Outro ponto negativo é Naomi Watts. Sua personagem é uma promotora americana que auxilia Louis Salinger na investigação do IBBC, mas sua aparição no filme é tão apagada que sua presença pouco importa para o resultado final da película. Não deveria ser assim. Afinal, ela possui características diferentes das vistas nas mocinhas de filmes de ação. Ela é forte, tem uma família e não possui interesse sexual no heroi (o que é muito estranho para uma produção hollywoodiana). Mas esses pontos positivos perdem-se em sua atuação discreta.

Por fim, o roteiro inconstante deve ser mencionado. Algumas boas ideias foram utilizadas, porém, mal aproveitadas. Ao final, percebe-se ter faltado um pouco de ousadia aos realizadores, o que é normal tratando-se de uma produção americana. O maior exemplo deste medo de atingir os limites é o encerramento do filme. Toda a segunda parte da projeção induz o expectador a acreditar que o protagonista tomará atitudes extremadas para tentar impedir a atuação do IBBC, mas no momento de agir é tomado por um sentimento qualquer de pena ou remorso que o impede de completar seu objetivo. Esse tipo de atitude é uma constante em filmes de hollywood, mas que sempre enfraquece o resultado da película, tirando-lhe verossimilhança. Será que o mocinho, para ser mocinho, tem que tomar sempre as mesmas atitudes pradonizadas a fim de não perder a credibilidade perante os espectadores?

Como disse no início, continuo esperando de Tom Tykwer um novo “Corra Lola Corra”; isso ainda não aconteceu com Trama Internacional. Com certeza ele é um diretor bem acima da média (e várias cenas deste filme provam isso), mas as inconstâncias deste trabalho comprometem o resultado, tornando a película apenas mais um bom thriller de ação, nada mais.

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