Análise – HQ – Wolverine – Logan

Título: Wolverine – Logan
Texto: Brian K. Vaughan
Arte: Eduardo Risso
Cores: Dean White
Panini Comics
Preço: 10,90 – páginas: 74

Inicio esta análise manifestando uma opinião pessoal minha, mas que com certeza representa mais de 90% dos amantes dos quadrinhos: Wolverine é o melhor personagem da Casa das Idéias.

Contudo, como diriam antigamente, tudo que abunda atrapalha. Com o frisson natural provocado pelo lançamento mundial do primeiro filme solo do Wolverine, uma enxurrada de histórias abarrotaram as bancas de todo o Brasil. Revistas históricas, mundos alternativos e elucidação sobre o passado do herói saciaram a sede de adamantium dos aficionados pelo Canadense mais peludo da Marvel. Infelizmente, nem todas as revistas são de boa qualidade, algumas, aliás, são de qualidade péssima.

É o caso desta edição de Wolverine – Logan. Aparentemente fadada ao sucesso, haja vista contar com um belo time criativo, comandado pelo texto cool de Brian K. Vaughan (Y – O último homem) e os desenhos perfeitos de Eduardo Risso (100 Balas), parecia que nada podia dar errado... parecia.

Nessa história, somos apresentados a uma parte do passado de Wolverine. Mais precisamente no final da Segunda Grande Guerra, quando ele foi encarcerado no início de agosto, nos arredores de Hiroshima. Convenhamos, não era uma cidade adequada para se estar em agosto de 1945.

Desde o início o texto de Vaughan é equivocado. Primeiro, Logan aparece visitando uma antiga construção japonesa, com clara intenção de enfrentar um rival (só não é explicado como e porque ele foi chamado até lá), entretanto, na parte final da revista, após um embate contra o desfigurado inimigo, Wolverine aparentemente o reconhece. Ora, se ele foi ao local para enfrentar uma pessoa específica, como ele só descobriu quem ele era após lutar com o mesmo por algum tempo? É uma incoerência estranha, causada por desleixo do autor ou na tentativa (frustrada) de causar certo impacto no leitor.

Mas o principal erro do roteirista é o anseio de criar uma história dramática e romântica para Wolverine. O texto é de uma pieguice absurda. Sejamos sinceros, Logan nunca foi um Ás com as palavras, tampouco se mostra uma pessoa delicada. Dito isso, suas frases soam ainda pior. Por exemplo, quando Wolverine é golpeado pela primeira vez por seu rival, solta esta pérola: “Sabe, eu me recupero de qualquer coisa... qualquer coisa, menos ter meu coração estraçalhado”. Aos desavisados, ele não estava mencionando um ferimento grave em seu peito, mas a uma desilusão amorosa (que metáfora bonitinha, não?).

Prosseguindo na história, após ter uma noite de amor com uma gueixa (onde, aparentemente, Wolverine brochou – bem, nem tudo dele deve ser de adamantinum, certo?), a bela meretriz se compadece do herói dizendo: “Eu aqui pensando que tinha ido pra cama com um calejado guerreiro, mas você é uma frágil boneca de porcelana, não?”.

Calma aí, Wolverine é uma boneca de porcelana? Tem alguma coisa errada comigo ou Brian Vaughan escreveu essa história para outro mutante, não para o Wolverine que eu conheço.

Quando não é piegas de dar nojo, o texto de Vaughan investe em absurdos. Até onde eu me lembro, Wolverine é um mutante que tem uma capacidade fantástica de recuperar seus ferimentos. Bem, eu não sabia que nessa capacidade se incluía o poder de criar um novo coração; isso porque o de Logan é comido (!) pelo vilão. Você não leu errado, ele tem órgão arrancado e devorado pelo inimigo, e ainda sobrevive.

O mais interessante é a reação ridícula do vilão ao reencontrar Wolverine ainda vivo. Descrente por ver o mutante caminhando ele sugere que o mesmo está tendo espasmos. Essa conclusão mentecapta chega a ser risível. Acho que Vaughan nunca viu um caso de espasmo cadavérico.

Ridícula também é a forma como Logan derrota seu inimigo. Ambos estavam em Hiroshima em agosto de 1945 e sobreviveram à bomba nuclear. Daí concluímos que os dois são, digamos, complicados de se derrotar. Mas não para o Wolverine, que simplesmente arranca a cabeça do maldito. Convenhamos, o cara sobreviveu à bomba e é apresentado na revista como um ser cadavérico que flutua (pois só possui a parte superior do corpo) e passa o tempo inteiro pegando fogo; você acha que “só” arrancar-lhe a cabeça o mataria? Pelo visto o escritor estava meio sem tempo para pensar em uma saída mais decente.

Bem, acho que já falei o suficiente do texto de Vaughan, é hora de passar para a arte de Risso.

Não vou dizer que Eduardo Risso se saiu bem (pois esse trabalho é bem inferior à sua media), mas o resultado, ao menos, não é vergonhoso como de Brian Vaughan.

No geral Risso apresenta desenhos inconstantes, oscilando bons momentos, como a paisagem desolada do Japão atual e o visual devastador no instante após a explosão da bomba atômica, como instantes péssimos, como o fato de o rosto de Logan quase nunca se repetir (sempre possui um aspecto diferente do quadro anterior) e a cena onde Wolverine defere o golpe de misericórdia em seu adversário (um quadro terrivelmente desenhado).

Como no caso de Vaughan, parece que Risso fez seu serviço às pressas ou estava desinteressado pelo tema, pois falta à sua narrativa gráfica uma de suas marcas principais, a escolha sempre inusitada dos ângulos. A história transcorre de uma forma tradicional demais para o padrão Risso de qualidade. Faltou a ousadia que sobrava quando trabalhava em 100 Balas.

Em alguns momentos faltou também um pouco de noção de tempo na narrativa, a fim de dar-lhe verossimilhança. Um bom exemplo disso é o momento em que o vilão Warren investe contra Atsuko (o flerte de Logan), na tentativa de estupra-la. Arma na mão direita, cinto na mão esquerda, ele avança contra a moça, a qual salta com uma katana contra o agressor. Durante o salto, Warren solta o cinto, pega a baioneta que se encontra nele, acopla na arma e inicia a luta contra Atsuko. Sinceramente, é incrível o quão alto essa moça pode pular. Warren tem um tempo enorme (ou uma agilidade incrível), pois quando termina de preparar a arma com a baioneta, Atsuko ainda está no ar. Ah, só uma perguntinha, não seria mais fácil atirar contra ela, ao invés de arriscar uma luta manual contra alguém que empunha uma katana?

Esta é uma edição terrível, com uma arte inconstante e um texto deplorável. Há um bom tempo não lia algo tão ruim; é difícil imaginar que os autores deste desastre sejam artistas tão valorizados por mim. Como brinde, a Panini envia junto com a revista uma placa de identificação do exército; é muito pouco para uma edição “especial” que custa R$ 10,90.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Análise – Livro – Caim – José Saramago

Conto - Cansado de Lutar

Crônica - Liberdade