Análise – Mangá – NAUSICAÄ Vol. 2 – Hayao Miyazaki

Nausicaä do Vale do Vento – Vol. 02
Hayao Miyazaki
Editora Conrad
R$ 29,90

No primeiro volume deste mangá, fomos apresentados à princesa Nausicaä do Vale do Vento; uma adolescente que, enquanto viajava nas proximidades do Mar Podre, defronta-se com um acidente aéreo. Uma nave repleta de mulheres e crianças cai, devido às avarias causadas por um ataque de insetos do Mar Podre. Na procura por sobreviventes, Nausicaä encontra a princesa de Pajite que, antes de morrer, lhe pede para entregar um artefato ao seu irmão, o príncipe de Pajite.

O desejo por devolver o artefato ao príncipe de Pajite e a responsabilidade atribuída à Nausicaä, que devido à saúde debilitada de seu pai, deve comandar seu povo em uma guerra que ameaça toda a população do Vale do Vento, são os fios condutores do capítulo inicial da série. Quando este se encerra, Nausicaä encontra-se fugindo do centro do Mar Podre, juntamente com Asbel, príncipe de Pajite.

Neste segundo capítulo, Hayao Miyazaki consegue imprimir um ritmo ainda mais ágil do que o visto no primeiro volume, em que pese a sua história, a cada página, ganhar contornos mais grandiosos.

O autor mantém sempre o interesse do leitor. Isso porque de tempos em tempos, nos são apresentados fatos novos (e relevante para a narrativa) e personagens novos, sempre intercalados com cenas de guerra, as quais têm as funções de deixar que o leitor assimile os fatos acrescentados e trazer mais dramaticidade à história (isso porque Hayao não poupa esforços para mostrar a verdadeira face da guerra, onde os inocentes são os primeiros a sofrer – assim, há, principalmente no primeiro volume, várias cenas de morte de mulheres e crianças).

Em uma obra tão extensa (são 07 volumes ao todo) é natural que existam momentos mais parados e que não têm função específica para a história principal (é o famoso encher lingüiça); não é o que ocorre aqui até o momento.

Hayao não introduz cenas desnecessárias na trama. Todos os quadros pintados até então são essenciais para a trama. As cenas apresentadas ou dizem respeito especificamente à guerra ou mostram os efeitos danosos na natureza ou servem para aumentar a profundidade dos personagens principais e secundários. Nada está ali por acaso, tudo influi diretamente na mitologia por ele desenvolvida.

Por falar nos personagens, é incrível o trabalho do autor ao atribuir a eles uma tridimensionalidade ímpar em cada caso. Não há aqui maniqueísmo no trato dos integrantes da trama; há evidentemente os heróis e os vilões, mas até esse conceito fica nebuloso em alguns momentos, pois mesmo os personagens que antes pareciam cruéis são capazes de tomar atitudes éticas louváveis.

É o caso, por exemplo, da princesa de Torumekia. Desde o início vista como vilã, levando todos os povos circunvizinhos à Torumekia a ingressar em uma guerra sem sentido, demonstrou grande respeito por seus comandados que deram a vida no campo de batalha. É o que se percebe da pág. 58, quando corta o próprio cabelo e o oferece simbolicamente aos que perderam a vida pela causa.

Nesta revista, descobrimos contra quem o reino de Torumekia luta. São os Doroks. Pouco se sabe, ainda, sobre esse povo, mas ao que parece, sua intensão é dominar todo o reino de Torumekia, não importando se suas atitudes possam gerar a destruição de toda a vida humana. A princípio não é um povo eminentemente guerreiro, pois lança mão de mercenários para implementar seu plano de guerra. O que não os impede de praticar ações cruéis, como no caso da tortura realizada a um filhote de Ohmu, com o propósito de enfurecer uma horda desses seres grandiosos para lançá-los contra a base de Torumekia.

Assim como o texto, a arte de Hayao é precisa. Seus quadros, se não são grandiosos, passam emoção e velocidade à trama, adequando-se perfeitamente à narrativa. Os ângulos escolhidos pelo autor são sempre os melhores e deixam o leitor a par de tudo o que ocorre no ambiente. Mesmo nas cenas de guerra, onde diversos fatos pipocam ao mesmo tempo nos quadros, o leitor não se sente perdido, sabe sempre o que está acontecendo, o que é uma tarefa complexa, primeiro por se tratar de uma obra desprovida de cores e segundo pela escolha do autor em pintar quadros pequenos, o que em mãos menos habilidosas seria um risco, podendo tornar a história confusa e sem sentido.

Com grandes ganchos para o próximo volume, Hayao avança lentamente com a história, mas sem a deixar maçante, pelo contrário, cativa o leitor mais e mais, apresentando e aprofundando a personalidade de cada integrante da trama. É uma obra grandiosa, com uma mensagem ecológica forte, que flui suave apesar do tema denso.

Termino essa análise pedindo sinceras desculpas pelas falhas neste texto. Reconheço que diversos pontos da revista não foram abordados aqui (como a morte do pai de Nausicaä), mas a narrativa de Hayao é tão rica em detalhes que faria esta análise tornar-se de um tamanho impraticável, portanto, abordei somente alguns pontos, apenas para transportar para você, leitor, um panorama geral desta obra-prima da arte sequencial.

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