Análise - Livro - Discworld: Eric - Terry Pratchett

Editora Conrad.
125 Páginas.

Acredite no que eu digo. Dificilmente você conseguirá encontrar autor de comédia tão bem sucedido na atualidade quanto Terry Pratchett. E o seu sucesso é mais que justificado. A cada livro da série Discworld o autor inglês consegue se superar; trazendo a cada nova página inúmeras situações, no mínimo, inusitadas.

Para quem não conhece (infelizmente a esmagadora maioria da população), a série Discworld, criada por Terry Pratchett, é um conjunto de histórias ambientadas em um mundo imaginário (em alguns pontos semelhantes com certo planeta terciário de um insignificante sistema solar). Esse mundo, o Discworld, tem uma forma de disco estando apoiado nas costas de quatro elefantes, os quais se equilibram como podem nas costas de uma gigantesca tartaruga (chamada A’Tuin), que caminha preguiçosa pelo espaço infinito.

Parece absurdo não é? Esse é o ponto... a história é absurda. Talvez aí esteja parte do seu encantamento. Já que estamos tratando de uma terra ilógica, diversas situações sem-sentido podem acontecer (todas devidamente provadas pelos embasados cientistas do Discworld). Liberto de quaisquer amarras da realidade, o autor pode infestar esse “mundo disco” com as mais diversas criaturas: magos, guerreiros, grêmios de ladrões e assassinos (devidamente organizados), universidades invisíveis, deuses sanguinários e Morte (com “M” maiúsculo, pois aqui ela existe, possui corpo e uma bela foice terrivelmente afiada).

Porém, não se engane, a série Discworld é muito mais que isso. É uma inundação de paródias, críticas, piadas ácidas e referências ao mundo pop. A cada volume publicado Terry Pratchett parece renovar totalmente seu estoque de piadas e imaginação no desenvolvimento de situações tão inverossímeis quanto sensacionais.

Neste volume, o nono publicado no Brasil, Terry Pratchett faz uma paródia à peça Fausto de Goethe. Aliás, a paródia é tão escancarada que a própria capa do livro possui o nome Fausto toscamente riscado, sendo sobreposto o nome do protagonista, Eric.

Eric é um demonólogo de apenas 13 anos que tenta conjurar um demônio que lhe realize três desejos: fortuna, mulheres e vida eterna. Por total falta de experiência, acaba por conjurar um mago fracassado (Rincewind, personagem mais freqüente e medroso das histórias do Discworld). Convencido de que Rincewind é realmente um demônio, Eric o força a realizar seus desejos, porém, como o mago nunca havia realizado um feitiço sequer na vida, todos os desejos do jovem demonólogo são realizados de uma forma um tanto inusitada.

Inicia-se a partir de então uma jornada por uma civilização retrógrada e adoradora de um Deus sanguinário, dois povos em um conflito (o qual envolve uma mulher desejada e um grande cavalo de madeira) e o fim-início do mundo (nesta ordem).

O ritmo narrativo de Terry Pratchett é louvável. Sua forma ágil de conduzir toda a história absurda de Eric, Rincewind e uma bagagem andante (!) impressiona. Sem contar a quantidade homérica de tiradas e piadas impagáveis que recheiam todo o livro.

Difícil é a tarefa de destacar o ponto mais interessante da obra, pois são muitas as inventivas situações desenvolvidas por Terry Pratchett, porém, não posso deixar de ressaltar toda a criação do mundo criada pelo escritor. A forma como as primeiras bactérias foram criadas é simplesmente inesquecível!

Neste ponto cabe um aviso: ler a série Discworld em meio a outras pessoas pode gerar um constrangimento desnecessário. É praticamente impossível segurar o riso durante todo o texto, assim, se não quiser fazer papel de maluco em frente aos outros (assim como eu em diversas ocasiões), prefira ler esse pequeno grande livro em um local sossegado e desabitado!

Como dito anteriormente, este livro é uma comédia de absurdos que parodia quase tudo. Então, para que você possa desfrutar totalmente desta leitura leve, porém, complexa em seus detalhes, é fundamental desarmar-se de qualquer preconceito formado quanto a livros de comédia e às deliciosas impossibilidades plenamente plausíveis contidas no microcosmo deste mundo em forma de pizza.

Acredito piamente que chegará o dia em que a comédia será tão bem quista na literatura quanto os livros de gêneros mais “sérios” e, quando este dia for alcançado, Terry Pratchett será devidamente reconhecido como um dos maiores escritores da atualidade.

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