Análise – HQ – Pixel Magazine nº 19

Y – O Último Homem nº 04 e 05
Escritor: Brian K Vaughan
Arte: Pia Guerra
Cores: Pam Rambo
Arte-final: José Marzan Jr.
Capa: J. G. Jones


O mundo como conhecemos acabou! Em um mesmo momento, sem qualquer explicação aparente, todos os mamíferos machos existentes na Terra (ou seja, aqueles que possuíam em seus genes o cromossomo Y) faleceram. Bem, quase todos. Dois mamíferos portadores desse cromossomo ainda caminham sobre o planeta: Yorich e seu macaco Ampersand.

Constantemente ouço por todos os lados as pessoas proclamarem que as mulheres estão dominando o mundo. E se isso realmente ocorresse? Seriam elas melhores do que nós homens na administração deste planeta? O roteirista Brian K Vaughan tenta responder a essa e outras perguntas com essa história (já clássica) dos quadrinhos.

Após um curto período de inércia traumática, uma parte da população (agora totalmente feminina) tenta reerguer os pilares da sociedade, adequando-se à nova realidade. Infelizmente, algumas dessas mulheres parecem-se terrivelmente com os homens nesse ponto, pois almejam a tomada do poder... pela força.

Nascem, assim, as amazonas. Um grupo paramilitar que visam galgar os degraus do Poder para estabelecer uma ordem “democrática” e feminista, adequando a atual situação mundial para melhor atender aos anseios das mulheres.

Como muitas outras células dissidentes do Poder Constituído, as amazonas iniciam sua jornada com ideais claramente políticos, mas a forma com que seus integrantes agem (instigadas por sua líder), fazem o grupo transformar-se em pouquíssimo tempo em uma organização terrorista, que não reluta em eliminar qualquer um que se prostre entre elas e seu objetivo. Seu foco no fim último de sua luta é tão intenso que não temem extrair uma de suas mamas (a esquerda), para facilitar o manuseio do arco e fecha (assim como as guerreiras amazonas da mitologia grega).

Assim que o comando das Amazonas toma conhecimento da existência de Yorich, o medo se instaura no grupo, medo de ver a opressão masculina retornar, massacrando a liberdade conquistada. Inicia-se, então, uma caçada para extirpar da Terra o último resquício do passado opressor que ainda teima em resistir.

É impossível ler as duas edições publicadas na revista Pixel Magazine e não ficar maravilhado com a desenvoltura de Brian Vaughan na criação e desenvolvimento dos personagens. O protagonista não poderia ser mais carismático e humano. Um nerd descolado, Yorich recheia todas as suas frases com citações a filmes, livros, quadrinhos e grupos musicais; ele parece uma enciclopédia do pop. Contudo, sua auto-confiança exagerada, assemelhando-se a de um adolescente, o compele a agir de forma precipitada e irresponsável, pois não só o faz arriscar a própria vida, mas também toda a sobrevivência da humanidade, posto ter ele se tornado a última esperança ressurgimento dos homens.

A série Y passa longe de ser uma leitura descompromissada. É um belo estudo sobre o comportamento humano, sobre como reagimos em situações extremas, inusitadas e perigosas; de que forma encaramos uma mudança radical da ordem natural das coisas. Enquanto alguns lutam pela sobrevivência da humanidade, outras, como as amazonas, tentam a todo custo encontrar no caos uma oportunidade para ascender e impor seus ideais.

Por fim, ressalto a belíssima arte que estampa a capa da Pixel Magazine. Desde o início da série, J. G. Jones nos tem presenteado com verdadeiras obras de arte. Suas capas possuem movimento, vivacidade e um tom sinistro perfeito. Um grande trabalho para ilustrar um texto fabuloso.

Frequência Global nº 4
Escritor: Warren Ellis
Arte: Roy Allan Martinez
Cores: David Baron


Frequência Global é uma organização não-vinculada a qualquer Estado que atua no sentido impedir que Governos ou grupos terroristas massacrem a população inocente. Esta organização foi criada por uma ex-agente, Miranda Zero, e tem como coordenadora central uma jovem chamada Aleph.

Essas são as únicas duas personagens fixas da série. Isso porque a Frequência Global é formada por 1.001 agentes, ou seja, a cada história um novo agente é convocado, não havendo repetição.

A forma como Warren Ellis desenvolve a história também é muito interessante. Todas as revistas formam uma história fechada, não existindo sequência ou continuidade. Portanto, as revistas podem ser lidas de forma aleatória sem atrapalhar o entendimento. Como existem 1.001 agentes na organização e, a cada história, um novo é convocado, o escritor tem total liberdade para matar o seu protagonista no final. Ou seja, tudo pode acontecer.

A história contida nesta edição da Pixel Magazine (Os Cem do Paraíso) é um deleite completo para os fãs de ação. Um grupo de cem fanáticos religiosos aprisiona trabalhadores de um prédio e amarram explosivos aos corpos destes; os explosivos estão conectados à pulsação de um dos integrantes do grupo, portanto, se ele morrer os reféns também morrerão.

Ocorre que, os fanáticos ingeriram veneno (segundo eles para realizar a transição para o novo mundo). Para que os reféns escapem ilesos, as exigências dos terroristas têm que ser atendidas. Caso contrário, permanecerão presos até que o último fanático morra, levando consigo todos os inocentes.

Dois agentes são designados para a missão. Um homem e uma mulher. Ela está no comando. Seu plano não é lá dos mais complexos: armar-se até os dentes e entrar no prédio. Qualquer fanático que apareça em seu caminho até os reféns fará a transição bem antes do veneno ingerido fazer efeito.

A partir daí, sai o texto de Warren Ellis e entra a belíssima arte de Roy Allan Martinez. São sequências intermináveis de tiros em braços, pernas e cabeças (com direito a tiro de escopeta calibre 12 na testa de um sequestrador)!

Esqueça a história. Curta a ação. Um conto de pura adrenalina, repleto de violência e diálogos ácidos. Por falar nos diálogos, o último é qualquer coisa de sensacional. Seco. Direto. Perfeito!

Constatine – Congelado – Parte 1 de 4
Escritor: Brian Azzarello
Arte: Marcelo Frusin
Cores: James Sinclair


Brian Azzarello tornou-se famoso no mundo dos quadrinhos, principalmente, pela realização da soberba história “100 Balas” (com certeza uma das melhores histórias policiais dos últimos anos). Contudo, sua destreza com as palavras naquela série, querendo ou não, tornou-se uma maldição: ninguém espera menos dele em qualquer revista que escreva.

Portanto, quando se lê o Constantine de Azzarello, espera-se contemplar a mesma habilidade desenvolta mostrada em 100 Balas. Ocorre que uma pessoa não pode ser obrigada a escrever uma obra-prima em toda a revista que participe. É o caso de sua passagem aqui; a revista não é uma obra-prima, não é uma 100 Balas, mas é um exemplar muito acima da média dos quadrinhos que circulam atualmente.

Nesta história, que marca o início do arco “Congelado”, Constantine volta ao seu habitat natural... um bar. Porém, alguns podem se decepcionar com o começo da narrativa, pois aqui John surge como um coadjuvante em sua própria revista!

Azzarello concentra muito mais tempo descrevendo os frequentadores do bar, os quais se encontram presos no local devido a uma nevasca monstruosa. A presença de Constantine é reduzida e suas palavras são muito econômicas. Azzarello deixa os demais presentes no bar levarem toda a narrativa.

O texto segue em um ritmo lento (muito embora com bons diálogos) até o final da revista, onde um belo gancho nos enche de curiosidade para acompanhar o desenrolar da trama.

Tanto a arte de Marcelo Frusin quanto as cores de James Sinclair absorvem bem o universo geralmente criado por Azzarello em suas histórias. Ambientes não muito hospitaleiros e personagens com claros desvios comportamentais são retratados de forma (até certo ponto) suja e com grandes contrastes; assim, os personagens normalmente são “banhados” por um preto intenso que lhes camufla parte do rosto (em uma metáfora à não exteriorização de todos os seus pensamentos).

Como disse, não é uma grande obra de Azzarello, mas é um bom começo para um arco que, ao menos no princípio, mostra John Constantine particularmente ácido com todos os que o rodeiam.

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