Análise – HQ – Coringa

Editora Panini
Papel LWC - 100 páginas
Preço: R$ 24,90
Escritor: Brian Azzarello
Arte: Lee Bermejo
Cores: Patrícia Mulvihill
Arte-final: Mick Gray e Lee Bermejo
Capa: Lee Bermejo


Talvez uma das melhores formas de se avaliar a grandeza de um super-herói seja observar a complexidade de seus inimigos. Quanto mais terríveis e assustadores forem os vilões, maior será a importância do herói na história. Quem sabe aí esteja boa parte da magnitude do Batman para o mundo dos quadrinhos... ele é sempre acompanhado de uma horda de criminosos terríveis, que são capazes de produzir no leitor sentimentos de pura perplexidade. Evidentemente, há sempre aquele vilão que se destacará em meio aos outros; no caso do Batman esse criminoso é o Coringa.

Várias já foram as histórias memoráveis envolvendo esse criminoso. A mais conhecida delas (e na minha opinião, a melhor) é “A Piada Mortal” de Alan Moore e Brian Boland (tenho certeza que muitos concordarão comigo neste caso). Naquela história, Alan Moore disseca de forma magistral a personalidade de um indivíduo que, antes de se tornar o monstro que aflige Gotham sem perdão, era um homem com seus problemas, dilemas e alegrias. Em meio ao turbilhão de acontecimentos que resultam na origem do Coringa, o mago inglês encontra as similitudes entre as trágicas histórias de Batman e Coringa, escancarando os efeitos de um dia ruim no destino de uma pessoa.

Contudo, essa história escrita por Brian Azzarello não é uma “Piada Mortal”; esse americano não possui a sutileza do inglês; sua função não é explicar porque o Coringa atua de forma tão avassaladora em Gotham; seu único objetivo é escancarar de forma definitiva todo o leque de maldades que perambulam ensandecidas pela mente do Coringa.

E isso ele faz com perfeição. Eu, particularmente, nunca havia lido uma história tão cruel envolvendo o Coringa. Nela, ele surge como uma força demoníaca incontrolável. O Coringa de Azzarello atua hesitação alguma, pois ele desconhece qualquer limite moral ou legal, seja estabelecido pela sociedade ou pela sua própria mente. Desta maneira, tudo lhe é permitido: esfolar por completo um antigo sócio, estuprar a ex-esposa de um comparsa, matar um casal de idosos sem qualquer motivo...

Assim como no filme de Batman – O Cavaleiro das Trevas, o Coringa de Azzarello é um agente do caos. Apesar de possuir o objetivo de reconquistar todo o poder perdido enquanto estava recluso no Asilo Arkham, suas ações só estão completas quando regadas de violência extremada. Tanto que se mostra triste ao assaltar um banco sem que, infelizmente, ninguém tenha morrido. Ao que parece, a clausura do Asilo Arkham só fez acumular toda a energia maléfica do Coringa; uma vez liberto, toda essa energia eclode de uma forma terrível, principalmente para os seus traidores.

A história da HQ se inicia exatamente com a libertação do Coringa. Jonny Frost, um ladrão pequeno e desconhecido, que entrou e saiu da prisão algumas vezes por crimes irrelevantes, vê na soltura do Coringa uma oportunidade para se tornar alguém.

A narrativa de “Coringa” é realizada, exatamente, por Jonny. Por seus olhos acompanhamos as investidas insanas do Coringa contra tudo e todos que atravessem o seu caminho (e alguns desavisados que morrem não porque eram uma ameaça, mas só porque ele queria matar). Apesar do medo inicial por encontrar um criminoso tão temido, Jonny “investe” na sua carreira; mantém-se ao lado de um indivíduo que aparenta tranqüilidade em um momento para, em três segundos, explodir e destruir qualquer um à sua volta.

A vontade incondicional de Jonny Frost de “se tornar alguém” e sua autoconfiança exagerada em seu poder de manter sempre o controle das situações, que o impulsiona para caminhos que podem destruí-lo por completo. Inclusive, com relação ao seu desejo de sempre manter o controle das ações, note sua ação final na última página da revista; sua atitude remete à história de um sapo narrada no decorrer da revista, demonstrando que, seja qual for o resultado, ele comanda seu próprio destino, não os outros.

Passando à arte da revista, Lee Bermejo a comanda com total segurança. Sua diagramação das páginas, sempre dispondo a ação em porções distintas no papel, confere à narrativa a fluidez necessária para o desenvolvimento dos personagens. Ao optar por trazer em cada página uma nova disposição dos quadros, os quais, por vezes, têm apenas a função de “dar um zoom” em uma parte do corpo de um personagem, intensificando a emoção da cena, o artista traz novo fôlego à história, renova os próprios desenhos e instiga o leitor a “descobrir” sua nova forma ilustrar a narrativa a cada página.

Muito embora não invista tanto em planos inusitados, posiciona sempre sua “câmera” de uma forma a ressaltar o texto de Azzarello. Por exemplo, sempre quando o Coringa demonstra sua força perante alguém, a “câmera” é posta na altura do solo, filmando-o de baixo para cima, a fim de acentuar seu poder e sua superioridade.

Não poderia deixar de mencionar, também, a capa desta revista. Mostrando simplesmente a boca do Coringa, ela talvez seja a mais assustadora dos últimos anos.

Até mesmo a arte-final de Mick Gray mostra-se correta nesta revista. Não sou o maior fã dele, pois sempre acho que suas sombras exageradas tendem a deixar todos os personagens feios, mesmo que o roteiro indique se tratar de uma pessoa deslumbrante. Para conferir o que digo, vejam seu trabalho em Promethea; Alan Moore descreve uma Deusa, John Williams III esforça-se ao máximo para criar uma entidade celestial e Mick Gray a consegue destruir tudo com suas sombras despropositadas. Porém, não é o caso de “Coringa”, onde as sombras existem em função da história.

Claramente influenciado pelo filme Batman – O Cavaleiro das Trevas, o Coringa apresentado por Azzarello talvez não se torne o padrão a ser seguido nas histórias regulares de Batman, devido à sua personalidade violenta ao extremo, mas com certeza já entrou para a galeria dos vilões mais doentios das histórias em quadrinhos.

Ah... já ia me esquecendo! Batman, aqui, é apenas um coadjuvante de luxo, portanto, sua aparição ocorre apenas no final da revista. Resume-se a uns poucos quadros, onde é retratado sempre nas sombras, com pequenas (mas precisas) falas.

Comentários

  1. Excelente narrativa...parabéns.
    Não li a revista mas tenho certeza que quando ler vou ficar mais atentos a esses detalhes que vc identificou.
    Não me leve a mal mas vc tem uma enorme habilidade em discorrer, principalmente este tipo de texto.
    Continue investindo nesta habilidade que cedo ou tarde voce terá uma ótima surpres (oportunidade) para mostrar realmente este seu talento.
    Valeu, forte abraço.
    Renan.

    ResponderExcluir
  2. Num consegui ler a preguiça foi mais forte,mais leio outro dia ae^^
    ainda tenho q fazer trabalho
    e to com foto do coringa no meu msn kk
    êr
    boiei akie mermão.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Análise – Livro – Caim – José Saramago

Conto - Cansado de Lutar

Crônica - Liberdade